- 2 de abr. de 2019
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Vivemos em um mundo cada dia mais globalizado, acelerado, conturbado, repleto de informações e cobranças. Nossa sociedade se habituou a nesses últimos anos ser rotulada como sendo a geração do “agora”, “tem que ser para já”. Fora isso, e não menos importante, tudo precisa ser realizado com precisão; perfeição é o requisito mínimo nas cobranças.
Uma das coisas mais alarmantes é que os valores que a sociedade impõe muitas vezes são absorvidos por nós e nem ao menos questionamos se são bons ou não; se vão acrescentar algo de produtivo em nossa vida ou não. Integramos todos eles à nossa natureza de forma que viramos escravos desses conceitos. Até chegar a um estágio de ficarmos paranoicos ou frustrados.
Segundo o dicionário, a palavra “perfeccionismo” entre outros significados, trata-se de uma obsessão em realizar tudo com perfeição, excelência e com o maior apuro possível.
Reconheço que durante muitos anos sofri e fui refém sem direito à resgate da minha própria busca por fazer tudo de forma perfeita. Até que os anos passaram e as cobranças para você se dar bem no trabalho, no estudo, casamento, e assim por diante, tornaram-se cada dia maiores e sufocantes. Além do mundo ao seu redor lhe cobrar atitudes perfeccionistas indiretamente, você inconscientemente se cobra também...
mas de forma bem exagerada.
Se um grãozinho de areia não estiver milimetricamente no lugar “que você” estabeleceu para ele ficar, na sua mente toda a praia estará comprometida e provavelmente a dinâmica dos oceanos irá mudar ao ponto de acontecer um tsunami... “Segundo você”...
Claro que existe a motivação em querer fazer algo com maestria e zelo. E não há nada de errado nisso. Quando você não se sente cobrado e nem se desespera se as coisas não saem conforme imaginou, torna-se algo louvável. Você optou por fazer algo decente sem precisar se sabotar. O perfeccionista ao contrário, em vez de olhar o todo, prefere ficar olhando só para os pequenos detalhes que às vezes nem farão diferença no resultado final.
A partir do momento em que eu não me dou espaço para erros, falhas, ou até mesmo para uma nova alternativa de realização de uma tarefa, a qual surtiria o mesmo efeito desejado, constata-se um perfeccionismo de forma exagerada. Se você se desespera por causa de coisas sutis que no final nem possuem tanta importância assim, seria interessante fazer uma análise de si mesmo.
Algumas pessoas perfeccionistas perdem grandes oportunidades de crescerem na vida justamente por causa do seu excessivo zelo em mostrar para os outros uma ação digna de perfeição. Muitos não conseguem dar o primeiro passo em abrir um empreendimento, ou até mesmo perdem tempo precioso pensando em como podem apresentar um trabalho de excelência sem falhas. Enquanto você pensa e reluta, sempre achando que nada está bom o suficiente, vem alguém que não está preso a esse tipo de cobrança e faz o que você há muito tempo deveria ter iniciado.
Existem crianças e adolescentes que não admitem em hipótese alguma tirar uma nota 8,0 ou 8,5 numa avaliação, por exemplo. Acham que não fizeram o bastante pelo fato de não terem conseguido o tão sonhado 10,0. Constantemente choram e se desesperam levando a cobrança ao nível máximo, ou seja, para todos os setores da sua vida.
Somado a isso, alguns pais também cobram de seus filhos que sejam alunos impecáveis, e uma espécie de terrorismo velado insurge fazendo com que os filhos se sintam na obrigação de serem perfeitos. Por vezes, os pais até fazem essa cobrança na melhor das intenções, temendo que o filho não aprenda ou não tenha um futuro promissor. Porém, a maneira de cobrar, ou em como revela para o filho as consequências para quem não estuda, podem ter o efeito contrário. Os filhos podem se tornar adultos frustrados, inseguros, onde tudo tem que ser meticulosamente bem feito; ou, em alguns casos, tornam-se pessoas tão competitivas que não admitem perder ou errar.
As mulheres também carregam várias cobranças dentro de si. E aquelas que se deixam levar por isso acabam não vivendo, mas sim, tentando cumprir as metas. Vou especificar agora quando as cobranças surgem na maior parte das vezes da própria sociedade. Há os casos de mulheres que sofrem pela cobrança da família, dos amigos, onde todos exigem respostas para suas incansáveis perguntas por vezes até inconvenientes: “Cadê o namorado?” “Vão casar quando?” “Mas já está na hora de ter um bebê, não acha?” “Se eu fosse você, decorava sua casa dessa forma” e por aí vai.
Mães também são cobradas e quando são de primeira viagem mais ainda. São observadas se estão alimentando o bebê da “forma que os outros acham que é o correto”, qual tipo de roupa, leite ou sapato a criança usa... Ainda são analisadas se são Super Mulheres, já que elas têm por obrigação na cabeça dos cobradores de plantão de ter que dar conta de ser uma excelente dona de casa, mãe exemplar, esposa zelosa, profissional admirável. Quanto mais houver atribuições, mais as mulheres se tornam infelizes porque creio eu que não sobrou muito tempo para uma mulher assim respirar, não é mesmo?
Devemos entender o seguinte: está tudo bem se tirar um 8,0 na prova... Está tudo bem se eu não compreender uma tarefa do trabalho logo de cara e pedir outra explicação para o meu chefe... Está tudo bem se eu não tiver ainda aquela casa dos sonhos; o importante é que eu tenha um lar cheio de amor... Está tudo bem se a minha equipe não bateu a meta do mês da empresa apesar de ter a consciência tranquila de que fizemos o nosso melhor...
Como também a Bíblia relata que estava tudo bem quando o segundo templo de Jerusalém foi erguido, mesmo ele não sendo tão lindo e luxuoso como o primeiro; mesmo o povo de Israel olhando para ele com descrédito, o Senhor assegurou que a glória da segunda casa seria maior que a da primeira. Não importava a beleza, o mais importante estava debaixo daquele prédio sem formosura: a Presença de um Deus onde só Ele pode ser perfeito.
AUTORA: JÚLIA CELESTE